Há momentos na vida em que só nos apercebemos que são grandes depois de os termos vivido. Enquanto os experienciamos não nos damos conta da grande história que vai ficar para contar. Eu tenho momentos assim. Felizmente, todos temos.
Eu lembro-me, como se fosse hoje, de um dia em que estava amuada (amuada é mesmo o termo certo), não me apetecia fazer nada, queria ficar em casa sossegada a abater o défice de sono. Mas a minha amiga e o seu companhiero da altura, não me deixaram, arrastaram-me para a azáfama da noite.
Num bar onde não passava música mas o barulho ensurdecedor das conversas não dava margem para muito diálogo, eles namoriscavam e eu resolvi ir à casa de banho para os deixar mais à vontade. Quando cheguei ele já não estava, ficamos só as duas. Ora, nestes instantes de ausência masculina há sempre um rapaz mais corajoso que mete conversa com duas raparigas. Conhecemos, então, um grupo de rapazes e raparigas que estava com ele, todos simpáticos e cheios de vontade de viver a noite que ainda era uma criança.
Eu continuava na minha, a sonhar com a minha cama grande e confortável, até que ouço: "Os teus olhos dizem tudo." O quê?! - perguntei surpreendida. Ele sorriu. Eu fiquei intrigada. E os outros à nossa volta continuavam em amena cavaqueira, só conseguia ouvir as gargalhadas da minha amiga, divertida.
Eu estava a viver um grande momento e não sabia. Ninguém mo disse. Ninguém me avisou.
Se soubesse, hoje teria na memória todos os pequenos pormenores, os mais ínfimos detalhes, daquela noite... A noite em que te conheci.